O Futuro do Judô
Há uma preocupação constante com os destinos do judô, como se o mesmo estivesse ameaçado de extinção. As mudanças ocorridas na parte técnica está alarmando os mais ortodoxos que exigem uma prática ¨como nos velhos tempos¨. Acontece que esses tempos não voltam mais! E, também, não foram melhores nem piores que os atuais para serem glorificados. Simplesmente foram diferentes. Diferentes como os atuais serão quando fizerem parte do passado. Mudanças ocorrem em todos os segmentos da vida humana. E com o judô não foi diferente! Não podemos fechar os olhos para elas; queiramos ou não, elas são inexoráveis. É melhor fluir com elas! As mudanças ocorridas na arbitragem, no judogui, forjaram alterações na forma de lutar. É preciso acompanhá-las e compreendê-las.Até 1974, existiam, apenas, o wazari e o ippon. Os japoneses dominavam as competições. Raramente aparecia alguém em condições para desafiá-los. Todos lutavam pelo segundo e terceiros lugares no pódium. Com a entrada do inglês, Charles Palmer, no comando da Federação Internacional de Judô, foram introduzidos o koka e o yuko na tentativa de ver os lugares no pódium se alterarem. Deu certo. Aumentou a motivação dos praticantes do judô em diversos países da Europa. Jogar os japoneses de costas no tatami era muito difícil, mas jogá-los sentado ou de lado tornou-se possível. Se, por um lado, alterou-se o conceito de técnica devido às inovações na arbitragem, por outro, incentivou-se a participação da maioria dos países nas competições de judô. E os campeões começaram a surgir. Entre eles, uma nova geração de judocas brasileiros foi capaz de ganhar 15 medalhas olímpicas e 4 títulos mundiais, escrevendo a página mais importante da competição do judô do Brasil.O judogui também sofreu modificações. Em tempos idos, o judogui era largo e todos o seguravam à vontade. Hoje, além do judogui ser apertado, os judocas ¨dificultam o kumikata¨ não permitindo que segurem em seus judoguis. Ficou muito difícil lutar. Com isso, surgiram as técnicas alternativas para minimizar o problema: ¨Kuchiki taoshis e Sukui-nagues¨, passaram a ser amplamente utilizados. A plástica do judô foi alterada. Críticas muito contundentes tem sido feitas ao judô atual como se o mesmo estivesse, definitivamente, consolidado em seu modelo. Não é bem assim. Ele tem sofrido transformações periodicamente. Na primeira transição do modelo antigo para o atual, os lutadores atuavam com os corpos muito curvados; atualmente, essa postura já se alterou. A Federação Internacional já não permite que a calça seja segurada sem a intenção de queda por parte do atacante e o ¨koka¨ foi abolido.A busca de um modelo que consiga reunir a plástica do judô primeiro e a competitividade do judô atual tem sido a preocupação de grande parte da comunidade judoísta. Todos estão empenhados na busca de soluções para esses problemas que tanto nos afligem. Problemas que, na realidade, são mais conceituais do que técnicos. Carecemos mais de uma identificação com os princípios educacionais preconizados pelo judô em sua metodologia de ensino do que dos ajustes técnicos que, de alguma forma, serão resolvidos.O empirismo serviu durante muito tempo como forma de transmissão de conhecimento. A transmissão de experiências pessoais, de conhecimentos, de vivências, que desde os primórdios vem sendo utilizadas como forma de ensino, precisa ser modificada. No início, justificava-se essa forma de transmissão porque o número de praticantes era pequeno e todos tinham acesso aos grandes mestres recebendo, diretamente destes, o ensinamento. Muitos desses mestres já não se encontram mais entre nós. O conhecimento que possuíam foi transmitido. Vem passando de mãos em mãos até os dias de hoje. Mas aí reside o grande problema do empirismo! Quanto mais se afasta da fonte, mais o ensino se deteriora! O ensino precisa ser formatado!Nosso grande desafio é sensibilizar toda a comunidade judoísta – atletas, pais, dirigentes, aficionados, mídia especializada – para a criação da Escola de Formação de Professores de Judô. Conclamamos a todos os judocas para que, juntos, assumamos a responsabilidade esportiva e social de conduzir os destinos do judô.
Paulo Duarte
Paulo Duarte é responsável pela formação de grandes campeões do Brasil. Colaborador do JUDOBRASIL desde 1998, atualmente, treina Leandro Guilheiro (2 bronzes olímpicos – Atenas/2004 e Pequim/2008). Entre seus ex-alunos, figuram nomes como Rogério Sampaio (campeão olímpico, Barcelona/92), Marcos Daud (vice-campeão mundial júnior) e Danielle Zangrando, entre outros
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